E, realmente, ninguém esquece nenhum aniversário na família. Bem, não é tanto assim. Não dá para lembrar o aniversário de todo mundo.
O meu avô, para não esquecer, coloca o dia do aniversário dos filhos, netos e pessoas conhecidas, que são muito amigas, como noras, por exemplo, no calendário do ano, aquele que geralmente fica em cima da mesa, na sala.
- É que eu estou com a memória fraca e daí a gente não esquece!
Geralmente, em quase toda família, pelo menos é o que as amigas dizem, sempre tem uma tia, que não precisa ser aquela “que ficou pra titia” - como diz o ditado - que faz o papel de informar sobre os aniversários.
Meu pai, que antigamente não se importava muito em saber os aniversários dos sobrinhos, porque ele só lembra o dos irmãos, sempre recebe uma ligação do meu avô ou dessa tia, informando que num sei quem está fazendo ou vai fazer aniversário.
Isso já é tão certo pra ele que se o meu avô ou minha tia não avisam, não tem jeito, ele dá uma bronca, como se não tivesse nada a ver com o esquecimento.
- Poxa vida, mas por que vocês não me avisaram.
E daí, assim que sabe, ele liga para dar alguma desculpa esfarrapada, dizendo, às vezes, coisas que não aconteceram somente pra que não pensem mal dele por ele ter esquecido a data sem nenhum motivo. É que aniversário é como se fosse uma coisa sagrada, mesmo a gente sabendo que o importante é o relacionamento no dia a dia.
Por isso que em nossa casa, aí é verdade mesmo, ninguém esquece o aniversário um do outro. A gente já sabe a ordem, e assim é mais fácil não esquecer. Além de que meu pai e minha mãe não esquecem de jeito nenhum.
Na verdade, como tem aquela regra dos 12 anos, depois que minhas irmãs passaram dessa idade, o meu aniversário é o mais importante na casa.
E a gente percebe tanto amor dos pais pra realizar o aniversário, que sente uma coisa boa no coração. Parece que eles estão prestes a explodir de emoção de tanta vontade de fazer com que a gente fique feliz. Não importa se passa um pouco do orçamento ou se não vieram todas as pessoas que foram chamadas; não importa se alguém ficou chateado porque não gostou tanto das lembrancinhas ou se o filho da vizinha caiu e machucou um pouco a boca; o que importa é se a filha se divertiu.
Se a felicidade da filha é porque ganhou muitos presentes, não importa. Se a alegria é porque aquele menino que a filha gosta veio à festa, também não importa. Se o contentamento é porque as amigas gostaram e todas vão falar bem da festa no colégio, também não importa.
O melhor retrato de tudo é quando chega o final da festa e já no apartamento, o pai da gente encosta-se ao beiral da porta do nosso quarto e fica olhando, mesmo que por poucos segundos, a gente abrir os presentes, com aquele sorriso largo, estampado no rosto.
Os pais pensam que a gente não percebe, mas a gente vê e sente um pouco o gostinho do que eles estão sentindo. É como se toda a alegria que a gente sente, eles também sentissem. Essa é uma sensação gostosa. Esse sentimento marca fundo o pensamento da gente.
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