Na consulta com a dentista, ela disse que meu pai tinha feito direitinho a coisa e que era só tomar conta do dente nos primeiros dias que tudo ficaria bem. Dentro de uns anos, quando fosse hora de nascer o dente definitivo, ele iria nascer e aquele dente, que voou na casa de praia, ia ficar só na lembrança.
- Mas Dra., vai ficar com uma cor diferente?
Eu me lembrava da história do dente da minha irmã mais velha, que machucou numa queda quando ela era criança e que daí o dente ficou meio amarelado, de uma cor diferente dos outros. Esta parecia uma coisa ruim que ninguém gostaria que acontecesse.
A dentista, então, contou que provavelmente isto não iria acontecer, e que se o dente fosse bem cuidado tudo ia ficar bem, ia ficar feliz. Meu pai, muito esperto, pensou logo em alguma coisa que pudesse levantar a auto-estima, sabendo que aquele assunto podia trazer algum receio e me deixar triste.
- Filha, não se preocupe, vai ser o seu dentinho feliz. Mais tarde a gente vai rir desta história. O que gente tem que fazer agora é cuidar do dentinho feliz.
E foi uma badalação do dentinho feliz que talvez ninguém suportasse. Acordava com minha mãe perguntando pelo dentinho feliz; meu pai colocava adesivo de dentinho feliz em tudo que era lugar. Os tios a primeira coisa que diziam era sobre o dentinho feliz. O vovô e a vovó ligavam, só para perguntar sobre o dente.
E o mais importante: na escola, no prédio, todo mundo já conhecia o dentinho feliz. Os vizinhos, o porteiro, o zelador, enfim, o dente estava super conhecido. Até eu passei a gostar do negócio de dentinho feliz.
Foi surpreendente. É por isso que dá pra dizer: um dente não derruba a gente. Uma coisa não é tão ruim como às vezes parece que será. Mas, no final, o dente feliz ficou com uma cor diferente. Ainda bem que foi mais ou menos perto do dente de leite seguir o ciclo normal da boca; e cair, é claro.
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