De fato, quantos brinquedos eu e minhas irmãs temos em casa, e que estão em bom estado, ou nunca foram usados ou, talvez, só uma vez ou outra a gente se lembra de usar e não se consegue doar para uma criança que jamais teve uma bonequinha? É quase certeza que isso acontece em muitas casas.
- D. Sandra, vamos dar aquelas bonequinhas que eu não uso mais pras meninas lá no sinal? Faz o seguinte: quando a senhora for comprar o pão, você leva as bonecas, dá pra elas. Eu vou ficar aqui na varanda, olhando tudo, ok?
- D. Sandra, vamos dar aquelas bonequinhas que eu não uso mais pras meninas lá no sinal? Faz o seguinte: quando a senhora for comprar o pão, você leva as bonecas, dá pra elas. Eu vou ficar aqui na varanda, olhando tudo, ok?
D. Sandra, também alegre com a ideia, ajuda a colocar as bonequinhas numa caixa, como se fosse um pacote de presente, com laço e tudo.
- Sandra, tu dá pra elas, mas eu quero ver daqui de cima tu entregando o presente pra elas!
Aquela sensação de ver alguém recebendo um presente inesperado parece que motivava mais ainda a situação. Uma ansiedade dominava enquanto a secretária se arrumava, pegava o dinheiro do pão e saía no elevador. Pareceu uma infinidade de tempo esperar a D. Sandra e ver ela se aproximando das meninas artistas.
Foi tudo muito rápido, como rápido, às vezes, são as coisas boas. Os meninos logo se aproximaram da D. Sandra e parecia que tudo ia dar errado, eles iam levar o presente da mão dela e pronto. Mas, com experiência de quem tem jeito pra conversar com gente simples, D. Sandra entregou o presente pra duas das meninas e apontou para o edifício. Elas ficaram sorrindo e dando tchau. Foi muito gostoso ver as meninas alegres, saltitantes, vendo as bonequinhas, que já não eram tão novas, mas que ainda mexiam com o imaginário delas.
Na varanda, já não estavam mais a Marinhazinha, a Sheila, a Mônica e a Dorothy. Com certeza, as meninas artistas iam dar outro nome pra as bonecas. Mas, o coração sentia que elas iam cuidar bem dos seus presentes. Mesmo distante, uma sensação chegava forte da esquina, talvez trazida pelo vento da tarde, enquanto as meninas artistas acenavam com as mãos, ouvia-se:
- Obrigada, não se preocupe, nós vamos cuidar tão bem delas quanto você já cuidou.
Isso realmente é o que se espera de quem tem alma de artista e que, independente de tudo, de todas as dificuldades, nunca deixa de ser gente, de ter alma de criança.
Essa ação tem explicação na economia de comunhão, nos fundamentos do socialismo, na fraternidade, na solidariedade e na crença de que "fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas".
ResponderExcluir"Nas mãos que sabem ser generosas". Obrigado pela sua generosidade, ela dá frutos. Este episódio da vida da Carol inspira outros textos, como, por exemplo, "O exemplo vem do berço", que deve sair em breve. Certamente, a percepção de como o mundo é e o reconhecimento das injustiças é que leva uma criança a pensar em doar os seus brinquedos. Não esquecendo que a inspiração também vem da formação humanista da escola. Abraço,
ResponderExcluirDerland, legal o texto construindo pontes do seu blog, muito inspirador e dentro do contexto que, hoje em dia, nós todos procuramos. O tempo de vida não quer dizer muita coisa se não construimos pontes. Às vezes, não conseguimos fazer esta ponte nem com os nossos filhos ou com aqueles com os quais deveríamos nunca ter nos desligado. Tenho certeza que a leitura, no sentido mais amplo que possa ser utilizado, é fundamental para isso. Abraço,
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