Naquele dia, a gaveta do armário fica mais ou menos organizada. Não é uma organização que a nossa mãe vai achar super-bacana, mas sempre fica um pouco melhor do que estava.
É claro que a gente pode fazer melhor, mas não custa deixar um pouquinho para o outro dia, até porque tem aquelas coisas que a gente não sabe ainda o que fazer com elas: se as guarda em outro local especial, que só a gente tem acesso, ou se as joga fora.
E não é para menos, porque depois de umas duas ou três limpezas da gaveta do armário a gente percebe que algumas coisas trazem um sentimento que vai além do nosso entendimento. Nossa mãe, pai, irmã, não entendem porque a gente guarda aquilo e a única explicação é porque é uma coisa que vem do coração.
Nessas horas, se a gente para e pensa um pouquinho – e quando se é criança ou adolescente muito jovem não é tão comum – se percebe que nem tudo é comandado pela razão, como os adultos às vezes dizem pra gente.
Nessas horas a gente vê que é necessário ter um local, além da gaveta do armário, onde sejam colocadas algumas coisas que nos fazem lembrar algo que está lá no fundo do nosso coração e que não são percebidas no dia a dia.
A gente sabe que todo mundo tem esses lugares. Por vezes, os nossos pais nos dão essas pistas. De vez em quando a gente os vê juntos ou separados, mexendo em papéis antigos, em caixas de sapato guardadas em algum canto não muito visitado do closet.
Por vezes, em momentos especiais, a gente vê o nosso pai triste, talvez pensando no seu irmão mais velho, ou então nossa mãe, talvez saudosa do seu pai, ambos com olhares diferentes, segurando coisas que buscaram nos “locais especiais”.
Se por um acaso eles percebem que nós presenciamos aquela situação, e eles, às vezes, tentam disfarçar, tentando nos proteger e demonstrar que não é nada, pensamos, intimamente, e dizemos com os olhos:
- Não se preocupem a gente sabe que isto é normal, porque a gente está dentro do coração!
Daí, não é difícil pensar que limpar as gavetas do armário parece que é um aprendizado.
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